Sentimento de Culpa


Como vai seu sentimento de culpa atualmente?

Em 2002, a revista Veja publicou uma reportagem de capa, muito interessante, por sinal. Falava ela do sentimento de culpa, como uma das grandes causas de males para o ser humano. Seja financeiramente, seja com o seu lado psicológico, afetivo, emocional, familiar, há uma esmagadora maioria de pessoas que buscam em si mesmas alguma razão para tudo o que ocorre no mundo aí fora. Sentem-se incapazes de lidar com fatos dos mais comuns, tudo isso graças a algo dentro de si que as impede de lutar.

O final da reportagem é mais interessante ainda - afirma que o buscar a Deus (nos dizeres do jornalista, uma religião) ajuda a aliviar esse sentimento. Por que será? Pois Deus é o refúgio e fortaleza dos que O buscam, e O buscam de verdade. Não provém de um estado emocional esboçado pelo indivíduo, mas sim de Alguém que está fora dele, Alguém que pode efetivamente ajudá-lo em todos os momentos, não apenas nos difíceis.

Bom é ver que Deus, ao menos nesse momento, não está sendo colocado como algo abstrato, uma idéia na qual nos apegamos firmemente - tal como o conceito mundano de fé - mas é Alguém dotado de poder para livrar quem nEle crê.

Se você já crê, parabéns. Parabéns, por quê? Certo, a fé foi dada a você para te livrar justamente porque Deus assim te prometeu, especialmente nos momentos difíceis, de angústia, ou sufoco, como queira. Nem tudo, entretanto, é exatamente assim no meio cristão. A pergunta que faço é por que tantos crentes possuem ainda um sentimento de culpa enorme em seus corações?

Seria algo ilógico admitir esse comportamento no homem. Isso, entretanto, é facilmente visível. Quantos que não se desenvolvem espiritualmente por justamente se sentirem culpados quanto aos aparentes fracassos de sua vida espiritual? Quantos crentes - imensa maioria, creiam - precisariam voltar às suas bases de fé por se sentirem culpados de não terem um relacionamento, digamos, decente com o Deus Todo-Poderoso?

Não pense você, caro leitor, que isso é uma realidade distante do meio em que vive, ainda mais se você é crente em Cristo Jesus, membro ativo de uma igreja cristã. Muitos não saem do leitinho por se sentirem tão culpados de não oferecerem o que tem de melhor para Deus.

Pense comigo: tudo hoje em dia se resume no atitudes que você tem de tomar para crescer. Pergunta: Desde quando Deus cobra algo de nós? Nem no momento da nossa salvação, quando Ele nos resgata em amor, existe cobrança. Por que haveria tal cobrança no nosso relacionamento atual com Deus?

Temos a enorme e infeliz tendência de considerarmos que, para um relacionamento dar certo, ambos têm que estabelecer metas para alcançar o ideal. Só que com Deus a meta já foi estabelecida, e a iniciativa é toda dEle. Isso se chama graça. A graça que entregou Seu Filho Amado na cruz do calvário. A graça que escolheu seres humanos para a salvação eterna. A graça que colocou a fé suficiente para nos aproximarmos de Deus.

Desse comportamento puramente humano, podem se tirar conclusões bem práticas a respeito do insucesso do caminhar de muita gente. Há os que não conseguem ler a Bíblia. Por quê? Apenas por seu tamanho? Não! As verdades que ela encerra são encaradas com um legalismo surpreendente, que ofusca as mentes e corações para a bondade e misericórdia de Deus.

O Senhor, então, não exige mudanças de nós? Não é isso que estou afirmando. O problema está no legalismo humano, o mesmo que vitimou Israel. A Lei de Moisés tem 613 mandamentos para serem cumpridos. Se o povo se ativesse tão somente ao cumprimento da Lei, quem conseguiria? O que opera no povo de Deus é a graça. O cumprimento dos mandamentos é conseqüência.

Vamos ampliar essa última frase? O que seria então conseqüência da graça amorosa de Deus?

* Ler a Bíblia;
* Orar;
* Ajudar ao irmão necessitado;
* Ir à Igreja;
* Trabalhar na obra;
* Dizimar, e por aí vai.

Há tantos talentos desperdiçados na Igreja! E por que isso acontece? Entra ano, sai ano, e muito pouco é transformado nessas vidas. Por quê? Por simplesmente não aprenderem que o Senhor trata, através da sua maravilhosa graça, todo e qualquer problema em nosso coração.

Não viemos a crer no Senhor Jesus para que nossos problemas se ampliassem. É bem certo que, para muita gente, isso ocorre, mas como conseqüência dos próprios ensinamentos de Jesus, como diz a Escritura que todo aquele que quiser viver piedosamente passará por tribulações. Estou me referindo a justamente os mesmos problemas que assolam a vida dos incrédulos, como tensão, estresse, lutas para tentar... agradar a Deus! Sendo que, o que realmente agrada a Deus é um coração quebrantado, livre de qualquer amarra.

O crente não nasceu de novo para viver esse sentimento de culpa. Todas as nossas falhas são perdoadas por Deus. Você precisa também se perdoar e se aceitar como você é, e isso se estender ao seu próximo. Todo ser humano é falho, pecador; todos carecem dessa graça, da glória divina.

Muitos pensam que, trabalhar na obra de Deus, é carregar um fardo pesado, e viver seguindo passos e etapas, estratégias mirabolantes para o sucesso. Nada disso! Deus quer que, antes que lancemos mão do arado, olhemos para Ele, para o exemplo de Cristo Jesus aqui na Terra, que nos ensinou a dar graça em todas as coisas!

O Senhor nos chama, então, para o ócio? Nada disso. Tudo o que faremos é descansar nessa graça, e Ele vai nos revelando a sua vontade, quando Ele quiser, na hora em que Ele quiser. Estamos num relacionamento, não num contrato de trabalho.

Antes de fazer qualquer coisa para Deus e Sua Igreja, pense nisso. Deus te chamou pela graça. Você não merece esse favor de Deus. Seu próximo pode também não merecer, mas testemunhe a ele a graça divina. Como? Sossegadamente. Descansado. Tranqüilo.

O que muito se prega, hoje em dia, é o ativismo. O crente precisa ser ativo em todas as coisas. Estar sempre fazendo algo. Acrescentam-se muitas coisas para que ele venha a crescer espiritualmente. Não é à toa que carrega um sentimento de culpa tão grande, e por vezes desiste dos projetos de Deus. É por isso que devemos levantar a cabeça, e olhar para Deus e para esse favor imerecido que vem da parte dEle. Reconhecer que tudo o que temos é um presente de Deus, e que não precisamos pagar a graça divina em suaves prestações, por toda a eternidade. Tudo em nossa vida é conseqüência desse relacionamento que temos com Deus, da graça dEle, que nos faz descansar, assim como ele descansou da criação no sétimo dia.

Antes de se sentir culpado, sossegue. A obra é de Deus. Ele é quem realiza, através ou não, de seres tão limitados como nós. Que a nossa possível culpa se transforme em alegria constante, por saber que Deus está no controle de todas as situações.

Autor: Cleber Olympio