Peregrinos em Moabe


No livro de Rute, no Antigo Testamento, conta-se a história de uma família de imigrantes que sai de Belém para peregrinar nos campos de Moabe, uma faixa de terra montanhosa onde atualmente se localiza a Jordânia, ao longo da margem Oriental do Mar Morto. Ao todo, seis pessoas em busca de sobrevivência:O pai Elimeleque (Meu Deus é rei), a esposa Noemi (agradável), os filhos Malom (fraco,doentio), Quiliom (triste) com as respectivas esposas Órfa e Rute.

Após dez anos de peregrinação todos os homens da família morrem, ficando apenas as mulheres. Noemi, a matriarca, cheia de amargura no coração, abatida e sem esperança despede as noras. Rute se nega a abandoná-la: “Onde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, pousarei eu, porque o teu povo é o meu povo, e o teu Deus o meu Deus” Rt 1:16. O convívio entre Rute e Noemi, regara sementes e elas já brotavam, existia raízes que não poderiam ser arrancadas sob pena de ressecamento. Já não era o parentesco que as unia, mas o espírito, a fé em um só Deus, o amor as atraia a um relacionamento rico em altruísmo.

A verdade, é que a família de Elimeleque jamais deveria ter saído de Belém, os que lá ficaram “foram visitados por Deus fartando-se de alimento” Rt 1:5. Ainda assim, Deus converte o final dessa triste história, fazendo com que Rute (a semente) gere filhos e herdeiros a Noemi de cuja descendência nasceria o Rei Davi. No final do livro, lê-se: “Deus seja teu Recriador da alma...”

A palavra recriador vem de shub (strong 07725) que significa: “Voltar”, “ir de encontro ao ponto de partida, em sentido espiritual”; “arrepender-se”. Deus mudou a direção da vida de Noemi, restituiu a dor, concedendo-lhe alegria. O Deus que ela servia não a desamparou em momento algum, apesar dos pesares.

Essa narrativa tem a ver comigo e com você. Por quantas vezes não tomamos decisões erradas, seguimos em direção a lugares para fugirmos da morte e ainda assim ela nos alcança? Quantas vezes partimos sorrindo e nos encontramos em meio a lágrimas, desilusão e solidão? Quantas vezes partimos cheios de expectativas, cheios de coragem e somos alcançados pela desesperança, o medo e a vergonha? Partimos de lugares físicos e espirituais, em busca da felicidade e mais tarde percebemos que tudo que fizemos foi fugir: De nós mesmos, da dificuldade, dos outros, dos desafios. Isso já aconteceu comigo:

Em 1999 toda nossa família partiu de Teresina para morar no litoral do Piauí. As coisas não estavam tão boas para nós. Tínhamos duas locadoras de filmes que iam “de vento em popa”, até três de nossos funcionários resolverem mover ação trabalhista contra nós. Tivemos que fechar as portas e nos desfazer de um grande terreno muito bem localizado. Na época não éramos cristãos e deixamos de cumprir algumas obrigações fiscais. Além de toda essa adversidade, fomos terrivelmente traumatizados por homens armados que invadiram nossa casa enquanto dormíamos e “limparam” tudo que encontraram pela frente. Nossos filhos, na época crianças, por muitos dias tiveram dificuldade para dormir.

Assim como Elimeleque, partimos cheios de esperança com novos empregos e expectativa de uma vida mais saudável e segura . No litoral, eles podiam correr e brincar na praia sem medo, podíamos viver de forma mais simples, sem a preocupação de contas e contas.

E a adversidade mais uma vez nos alcançou. Passamos por tragédias e dores que nos fizeram refletir sobre a vida. Aprendemos que a resposta não estava nos lugares para onde partimos, mas dentro de nós. Não adiantava dar voltas ao redor da mesma montanha esbararíamos em lugares comuns. Era preciso mudar a direção, e, sobretudo, mudar nossos corações. De outra forma, a infelicidade continuaria nos perseguindo. E assim, “voltamos para Belém. E Belém quer dizer “casa de Pão”. Elimeleque ao deixar Belém, deixou o sustento, o pão.

Voltamos. Para Aquele que seria o nosso Sustento, O Deus que nos guardou em todo o tempo, que em meio aos pesares, nos consolou.Encontramos Lugar Seguro, Porto que ao desembarcar nos faz andar sobre as águas. A Ele toda glória! Ao entregarmos nossos corações a Jesus, Ele mudou nossa história. Todo o passado foi apagado: “Eu, eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro” Is 43:25. Também regressamos a Teresina, de onde havíamos saído. Sempre somos fortalecidos na fé, ao recordarmos nossa trajetória de peregrinos em Moabe.

Do nosso passado transgressor, ainda restava uma dívida de quinze mil reais na Receita Federal, essa Jesus também apagou! Orávamos todos os dias por isso, até que os computadores da RF nos brindaram com a sentença: Nada consta! Glorificado seja o Senhor! Nossa história foi recriada a partir do regresso, já não eramos imigrantes em terra de fome, mas cidadãos em terra firme com fartura de víveres em Cristo que nos salvou.

“Ele te será Recriador da alma...” Rt 4:15

Se você encontra-se em fuga, em busca de um lugar Seguro e Abundante, posso te apontar a direção: Jesus! Ele é Belém, Casa de Pão, de onde jamais deveríamos nos afastar. O tempo de regressar é hoje, de arrepender-se é agora. Somente Ele pode mudar o rumo de sua história, como mudou a minha e a de Noemi. Ele te recria, gera de novo, te faz andar sobre as águas, em meio à tempestade. E ao olhar para trás, verás que valeu a pena, que o futuro já não se apresenta como trevas e incertezas.

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” I Pedro 1:3.

Jesus transforma maus começos em finais felizes e tudo começa com o regresso a Casa de Pão.

| Autor: Wilma Rejane | Divulgação: estudosgospel.com.br |