Meros Ouvintes ou Operosos Praticantes?


“Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa.” (Lc 6.46-49)

Em Tg 1.22-25 encontramos uma exortação a nós dirigida no tocante à prática da fé Cristã. Ali, Tiago nos exorta quanto ao perigo do autoengano, quando somos apenas ouvintes da Palavra de Deus, porém, não a pomos em prática. Ele então nos diz: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (versículo 22) e depois, no versículo 25: “Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”. Este ensinamento de Tiago encontra sua base no ensino que Cristo deu no sermão que ficou conhecido como “O Sermão do Monte”, e suscita a pergunta que é o tema dessa mensagem: “Meros ouvintes, ou operosos praticantes?”.

O que de fato somos? A ilustração que o Senhor Jesus usou no texto de Lucas acima, a de dois homens que construíram suas casas, nos leva a pensar em três elementos que também estão presentes em nossa vida, especialmente no que diz respeito ao nosso relacionamento com a Palavra de Deus e como estamos edificando nossa vida sobre ela:

1 - Intenções prováveis: A história nos mostra dois homens que decidiram construir cada qual a sua casa. Aqui levantamos a seguinte pergunta: com quais intenções alguém constrói uma casa? Várias respostas prováveis podem ser dadas: investimento financeiro, ter um imóvel e não ter que pagar aluguel, administrar bem seus recursos, ter um abrigo para sua família, etc. Confesso que esses motivos estiveram presentes em meu coração quando resolvi comprar um apartamento para minha família. Note que todas essas intenções são louváveis e com toda probabilidade estiveram nos corações desses dois homens.

As intenções de um coração funcionam como um combustível numa máquina, impulsionando-a e fazendo com que ela se movimente. As intenções levam os homens a tomarem decisões, a saírem do marasmo em que se encontram e a fazerem alguma coisa. Outros elementos presentes nessa história que Jesus contou e que estão presentes em nosso relacionamento com a Palavra de Deus são:

2 - Os métodos empregados: O Senhor Jesus disse que um deles optou pela sensatez enquanto que o outro, pela insensatez. A partir desse ponto eles tomaram decisões e direções diferentes. O que fora sensato, entregou-se ao trabalho pesado e mais difícil, no qual tinham de ser observados os métodos corretos. Chamamos isso de normas. Este homem sensato foi obediente às normas da construção civil, pois, para que uma edificação fique firme é necessário cuidar da base, do alicerce da construção. O Senhor Jesus destacou que esse homem sensato “…cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha…” (versículo 48). Ele não se contentou em apenas abrir uma vala; ele cavou até encontrar uma rocha.

Certas leis não mudam, uma delas é a lei da física. Em nossos dias quando se vai construir, antes de tudo é feita uma análise do solo com a finalidade de saber qual o tipo de estrutura será exigida. Naqueles tempos, eles não dispunham desses recursos que temos, porém, tinham outros, e aqui no texto vemos um desses recursos: construir em solo rochoso, porque um solo rochoso oferece estabilidade. Por esse motivo esse homem foi prudente e sensato. Enquanto isso, o outro foi insensato. Jesus disse que ele lançou sua construção sobre a terra. A ideia que nos vem à mente aqui é que esse sujeito simplesmente começou a colocar os tijolos um um sobre o outro no chão, mas, não foi isso. Isso não seria insensatez, seria ilógico. Qualquer ser humano sabe que o mínimo de nivelamento é necessário para se levantar uma parede. Assim, sendo, a insensatez desse homem está associada à sua preguiça, pois, ele até começou a preparar o solo, mas, em dado momento se contentou com seu serviço e não fez o que devia. Ele cavou um pouco, mas, não chegou até à rocha. A partir desse ponto eles tiveram consequências diferentes. Por fim, encontramos aqui nessa história e em nosso relacionamento com a Palavra de Deus:

3 – Os resultados obtidos: As chuvas vieram, os rios transbordaram e as enchentes deram com força total contra as casas. Um substantivo que merece mais da nossa atenção aqui é “ruína” (versículo 49) que no grego é ????? e quer dizer: “quebra, ruína, colapso”. Este substantivo indica literalmente uma “brecha numa barragem, uma ruptura, uma fissura”. Em ambas as casas, as águas da enchente bateram com tanta força e aos poucos abriram fissuras nos alicerces, mas isso, somente na casa do insensato. A casa do sensato resistiu porque estava sobre a rocha, ao passo que a do insensato não suportou, e as fissuras aumentaram até que o alicerce ficou totalmente abalado. O sensato teve como resultado de todo o seu esforço, prudência e obediência às normas de construção, não somente sua casa, mas a sua vida preservada, ao passo que o insensato viu ruir todo o seu investimento.

Aplicação: Aplicando os princípios aqui encontrados à nossa vida e relacionamento com a Palavra de Deus, destacamos:

1 - Intenções prováveis: É muito provável que tenhamos boas intenções em vir à Igreja, ouvirmos a mensagem, os ensinamentos. Podemos até alistar algumas boas intenções: encontrar paz para o nosso coração, descobrirmos qual é a vontade de Deus para nós, sermos vitoriosos sobre os nossos fracassos, etc. Todas essas prováveis intenções são louváveis, e faremos muito bem se as tivermos em nosso coração. Contudo, apenas termos boas intenções de nada adiantará se não estivermos dispostos a pôr em prática tudo quanto temos aprendido. Muitos crentes não crescem espiritualmente porque não passam de meros ouvintes, sem jamais chegarem a ser operosos praticantes. A Palavra de Deus é viva independente do homem aceitá-la ou não. Mas, tal homem só desfrutará das bênçãos decorrentes da Palavra de Deus se ele a praticar. Mas, também devemos observar:

2 – Os métodos empregados: No que concerne à Palavra de Deus, os métodos que devemos empregar são ditados por ela mesma. É a nossa obediência completa ao que ela nos diz que determinará os métodos que utilizaremos. Não são os métodos que achamos mais eficientes, mas os métodos que Deus determina em Sua Palavra que devem ocupar nossa atenção e empenho. Assim como o construtor sensato escavou até chegar à segurança de um solo rochoso, obedecendo assim completamente às leis da física e da construção civil, devemos nós também aprofundar nossas raízes em completa obediência ao que Deus determina em Sua Palavra. Não podemos agir “pelas metades” como o construtor insensato, que resolveu fazer “do seu próprio jeito”, ignorando normas específicas. Muitos crentes têm boas intenções para com a Palavra de Deus, mas, não passam disso. Não põem em prática o que ela ordena. Tratam a Palavra de Deus como uma opção, enquanto deveriam tratá-la como norma, regra inquebrável, inflexível, inquestionável.

3 – Os resultados obtidos: Os resultados obtidos dos métodos empregados são diferentes. Aqueles que atentam ao que a Palavra de Deus diz e cuidam de praticá-la incondicionalmente (por mais absurda que pareça a ordem que a Bíblia dá), colherão resultados maravilhosos: segurança, estabilidade, proteção, paz de espírito, preservação da vida, enfim, todas as bênçãos decorrentes de um relacionamento profundo com Deus e prometidas por Ele em Sua Palavra. Ao passo que aqueles que até mostraram algum interesse e até se dispuseram a construir algo sobre a Palavra de Deus, mas que, em dado momento se contentaram com o que fizeram em vez de prosseguirem obedientes ao que Ela determina (à semelhança do construtor imprudente que se contentou com o alicerce parco e sem profundidade que ele lançou), sofrerão terríveis danos: angústia, perdas irreparáveis, sofrimento, culpa por não terem obedecido completamente, etc.

Conclusão: As enchentes (tribulações) sobrevêm a todos. Cada um de nós tem as suas próprias “enchentes”. A forma como nos relacionamos com a Palavra de Deus é que determinará os resultados durante e após uma tribulação. É em sermos operosos praticantes da Palavra de Deus que obteremos a segurança deque tanto precisamos na hora da tribulação. Se você encontrar um irmão que passa por terrível tribulação, e, ainda assim ele permanece firme na presença de Deus e não se afasta dos Caminhos de Deus, pode estar certo de que ele é um operoso praticante da Palavra. Se você está desanimado e até está pensando em desistir de seguir na Caminhada Cristã, pode estar certo: você é apenas um mero ouvinte da Palavra, e praticamente em nada é diferente de Satanás que não passa de um profundo conhecedor da mesma, mas, jamais, um praticante.

Autor: Olivar Alves Pereira