Graça, Prazer e Dever
Voltemos ao texto que narra o retorno de Davi a Jerusalém. De repente, quem sai ao seu encontro? Mefibosete, neto de Saul. Aquele que Ziba acusara de estar conspirando contra Davi para ocupar seu trono. O texto diz que sua aparência era de alguém em grande abatimento:
“Não tinha cuidado dos pés, nem feito a barba, nem lavado as vestes desde o dia em que o rei saíra até o dia em que voltou em paz. Chegando ele a Jerusalém a encontrar-se com o rei, este lhe perguntou: Por que não foste comigo, Mefibosete?” (2 Sm.19:24-25).
Percebe-se que o rei ainda estava triste pela ausência de Mefibosete durante o tempo de maior crise do seu reino. Será que ele realmente havia conspirado contra Davi? Será que Ziba havia dito a verdade? Estaria ele esperando que o trono de Saul lhe fosse devolvido?
“Respondeu ele: Ó rei meu senhor, o meu servo me enganou. O teu servo dizia: Albardarei um jumento, e montarei nele, e irei com o rei; pois o teu servo é coxo. Demais disto ele falsamente acusou o teu servo diante do rei meu senhor. Porém o rei meu senhor é como um anjo de Deus; faze, pois, o que bem te parecer. Toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor, mas puseste a teu servo entre os que comem à tua mesa. Portanto, que direito tenho de clamar ao rei?” (vv.26-28).
Eis aqui alguém que de fato entendeu o significado da palavra “Graça”. Embora Mefibosete pudesse representar uma ameaça ao trono de Davi, dada a sua condição de descendente direto de Saul, Davi o acolheu em seu palácio. E isso por conta da aliança que Davi fizera com o pai de Mefibosete, Jônatas. Foi por amor a ele, que Davi resolveu correr todos os riscos, trazendo Mefibosete pra debaixo do seu teto.
Ele agora perdera tudo. Por causa de uma calúnia, Davi transferira para Ziba todos os seus bens. Mas mesmo assim, Mefibosete não se vê no direito de reclamar. Para ele, já era um privilégio sentar-se entre os príncipes, mesmo sendo neto do maior inimigo de Davi. Bastava-lhe a satisfação de reencontrar o rei em seu retorno a Jerusalém.
Com a cabeça mais fria, sem estar debaixo da mesma pressão que estava naquele dia, Davi responde: “Por que falas ainda de teus negócios? Já decidi: Tu e Ziba repartireis as terras” (v.29). Foi esta a maneira que Davi arrumou pra tentar consertar as coisas. Metade pra um, metade pro outro. Estando bom para ambas as partes... De repente, Mefibosete o interrompe e diz: “Que ele fique com tudo, uma vez que o rei meu senhor já voltou em paz a sua casa” (v.30).
Ainda existem homens como Mefibosete entre nós. São poucos. Na verdade, são raríssimos. Mas são frutos de uma consciência tomada pela Graça. Homens que não fazem questão de nada, cujo coração está inteiramente no Rei, e não nas benesses que possam receber.
O texto diz:
“Também Barzilai, o gileadita, desceu de Rogelim, e passou com o rei o Jordão, para acompanhá-lo ao outro lado do rio. Ora, Barzilai era muito velho, da idade de oitenta anos. Ele tinha sustentado o rei, quando este estava em Maanaim, pois era homem muito rico. Disse o rei a Barzilai: Passa tu comigo e eu te sustentarei em Jerusalém. Porém Barzilai disse ao rei: Quantos serão os dias dos anos da minha vida, para que suba com o rei a Jerusalém? Da idade de oitenta anos sou eu hoje. Poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia o teu servo ter gosto no que come e no que bebe? Poderia eu ainda ouvir a voz dos cantores e das cantoras? Por que seria o teu servo ainda pesado ao rei meu senhor? Com o rei irá teu servo ainda um pouco mais além do Jordão. Por que o rei me daria tal recompensa? Deixa voltar o teu servo, para que eu morra na minha cidade junto à sepultura de meu pai e de minha mãe. Mas aqui está o teu servo Quimã. Passe ele com o rei meu senhor, e faze-lhe o que bem parecer aos teus olhos” (2 Sm.19:32-37).
Mesmo avançado em idade, Barzilai poderia ter-se aproveitado da situação para desfrutar a reta final de sua vida em grande estilo, transitando pelos corredores do poder, comendo à mesa com o rei. Mas em vez disso, preferiu ceder seu lugar a outro. Sua postura nos remete à recomendação de Paulo: "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rm.12:10).
Barzilai representa aqueles que servem pelo prazer de servir, sem esperar nada em troca. Aqueles que, como Jesus ensinou, não deixam que a mão esquerda saiba o que fez a direita. Tudo o que fazem, fazem-no por amor, e amor totalmente despretensioso, sem interesses ocultos.
Davi ficou profundamente sensibilizado com a atitude de Barzilai. De maneira que respondeu: “Quimã passará comigo, e eu lhe farei como bem parecer aos teus olhos. E tudo o que me pedires te farei. Havendo todo o povo passado o Jordão, e passando também o rei, beijou o rei a Barzilai, e o abençoou, e Barzilai voltou para o seu lugar. Dali passou o rei a Gilgal, e Quimã passou com ele” (vv.38-40a).
Davi jamais se esqueceria do bem que aquele ancião lhe fizera no momento mais crítico de sua vida (2 Sm.17:27-29). Uma vez que ele se recusava a ser recompensado, transferindo esta honra a outro, Davi prontamente o atendeu. E não apenas acolheu a Quimã, mas tratou de estender o benefício a todos os filhos de Barzilai.
Em seu leito de morte, enquanto se despedia de Salomão, Davi recomendou: “Porém com os filhos de Barzilai, o gileadita, usarás de benevolência e estarão entre os que comem à tua mesa, porque assim se houveram comigo, quando eu fugia por causa de teu irmão Absalão” (1 Reis 2:7).
Mesmo que Berzilai não fizesse questão de nada, Davi soube preservar sua gratidão.
Berzilai era um homem voltado para o futuro. Não propriamente o seu futuro, uma vez que estava velho e prestes a partir, mas o futuro de sua descendência. Recusar-se a receber aquela honra foi fator decisivo para que sua descendência fosse preservada no futuro.
“Não tinha cuidado dos pés, nem feito a barba, nem lavado as vestes desde o dia em que o rei saíra até o dia em que voltou em paz. Chegando ele a Jerusalém a encontrar-se com o rei, este lhe perguntou: Por que não foste comigo, Mefibosete?” (2 Sm.19:24-25).
Percebe-se que o rei ainda estava triste pela ausência de Mefibosete durante o tempo de maior crise do seu reino. Será que ele realmente havia conspirado contra Davi? Será que Ziba havia dito a verdade? Estaria ele esperando que o trono de Saul lhe fosse devolvido?
“Respondeu ele: Ó rei meu senhor, o meu servo me enganou. O teu servo dizia: Albardarei um jumento, e montarei nele, e irei com o rei; pois o teu servo é coxo. Demais disto ele falsamente acusou o teu servo diante do rei meu senhor. Porém o rei meu senhor é como um anjo de Deus; faze, pois, o que bem te parecer. Toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor, mas puseste a teu servo entre os que comem à tua mesa. Portanto, que direito tenho de clamar ao rei?” (vv.26-28).
Eis aqui alguém que de fato entendeu o significado da palavra “Graça”. Embora Mefibosete pudesse representar uma ameaça ao trono de Davi, dada a sua condição de descendente direto de Saul, Davi o acolheu em seu palácio. E isso por conta da aliança que Davi fizera com o pai de Mefibosete, Jônatas. Foi por amor a ele, que Davi resolveu correr todos os riscos, trazendo Mefibosete pra debaixo do seu teto.
Ele agora perdera tudo. Por causa de uma calúnia, Davi transferira para Ziba todos os seus bens. Mas mesmo assim, Mefibosete não se vê no direito de reclamar. Para ele, já era um privilégio sentar-se entre os príncipes, mesmo sendo neto do maior inimigo de Davi. Bastava-lhe a satisfação de reencontrar o rei em seu retorno a Jerusalém.
Com a cabeça mais fria, sem estar debaixo da mesma pressão que estava naquele dia, Davi responde: “Por que falas ainda de teus negócios? Já decidi: Tu e Ziba repartireis as terras” (v.29). Foi esta a maneira que Davi arrumou pra tentar consertar as coisas. Metade pra um, metade pro outro. Estando bom para ambas as partes... De repente, Mefibosete o interrompe e diz: “Que ele fique com tudo, uma vez que o rei meu senhor já voltou em paz a sua casa” (v.30).
Ainda existem homens como Mefibosete entre nós. São poucos. Na verdade, são raríssimos. Mas são frutos de uma consciência tomada pela Graça. Homens que não fazem questão de nada, cujo coração está inteiramente no Rei, e não nas benesses que possam receber.
Barzilai, o prazer de servir por servir
Embora já tenhamos falado de sete homens que se revelaram durante o tempo de crise no reino de Davi, gostaria de fazer um acréscimo, um oitavo tipo representado por Barzilai.O texto diz:
“Também Barzilai, o gileadita, desceu de Rogelim, e passou com o rei o Jordão, para acompanhá-lo ao outro lado do rio. Ora, Barzilai era muito velho, da idade de oitenta anos. Ele tinha sustentado o rei, quando este estava em Maanaim, pois era homem muito rico. Disse o rei a Barzilai: Passa tu comigo e eu te sustentarei em Jerusalém. Porém Barzilai disse ao rei: Quantos serão os dias dos anos da minha vida, para que suba com o rei a Jerusalém? Da idade de oitenta anos sou eu hoje. Poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia o teu servo ter gosto no que come e no que bebe? Poderia eu ainda ouvir a voz dos cantores e das cantoras? Por que seria o teu servo ainda pesado ao rei meu senhor? Com o rei irá teu servo ainda um pouco mais além do Jordão. Por que o rei me daria tal recompensa? Deixa voltar o teu servo, para que eu morra na minha cidade junto à sepultura de meu pai e de minha mãe. Mas aqui está o teu servo Quimã. Passe ele com o rei meu senhor, e faze-lhe o que bem parecer aos teus olhos” (2 Sm.19:32-37).
Mesmo avançado em idade, Barzilai poderia ter-se aproveitado da situação para desfrutar a reta final de sua vida em grande estilo, transitando pelos corredores do poder, comendo à mesa com o rei. Mas em vez disso, preferiu ceder seu lugar a outro. Sua postura nos remete à recomendação de Paulo: "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rm.12:10).
Barzilai representa aqueles que servem pelo prazer de servir, sem esperar nada em troca. Aqueles que, como Jesus ensinou, não deixam que a mão esquerda saiba o que fez a direita. Tudo o que fazem, fazem-no por amor, e amor totalmente despretensioso, sem interesses ocultos.
Davi ficou profundamente sensibilizado com a atitude de Barzilai. De maneira que respondeu: “Quimã passará comigo, e eu lhe farei como bem parecer aos teus olhos. E tudo o que me pedires te farei. Havendo todo o povo passado o Jordão, e passando também o rei, beijou o rei a Barzilai, e o abençoou, e Barzilai voltou para o seu lugar. Dali passou o rei a Gilgal, e Quimã passou com ele” (vv.38-40a).
Davi jamais se esqueceria do bem que aquele ancião lhe fizera no momento mais crítico de sua vida (2 Sm.17:27-29). Uma vez que ele se recusava a ser recompensado, transferindo esta honra a outro, Davi prontamente o atendeu. E não apenas acolheu a Quimã, mas tratou de estender o benefício a todos os filhos de Barzilai.
Em seu leito de morte, enquanto se despedia de Salomão, Davi recomendou: “Porém com os filhos de Barzilai, o gileadita, usarás de benevolência e estarão entre os que comem à tua mesa, porque assim se houveram comigo, quando eu fugia por causa de teu irmão Absalão” (1 Reis 2:7).
Mesmo que Berzilai não fizesse questão de nada, Davi soube preservar sua gratidão.
Berzilai era um homem voltado para o futuro. Não propriamente o seu futuro, uma vez que estava velho e prestes a partir, mas o futuro de sua descendência. Recusar-se a receber aquela honra foi fator decisivo para que sua descendência fosse preservada no futuro.
| Autor: Hermes C. Fernandes | Divulgação: EstudosGospel.Com.BR |