Babel ou Igreja?


Os cristãos, de modo geral, estão envolvidos com a obra de Deus. Alguns, mais especificamente, trabalham dentro da igreja, em diversos ministérios, grupos e projetos. Qual será a visão de Deus a respeito de todo esse trabalho? A bíblia nos mostra que nossas obras podem ser abençoadas ou destruídas por Deus (Salmo 90.17; Ec.5.6).

Em Gênesis 11, encontramos o exemplo de uma grande obra: a Torre de Babel. Aquele texto nos fala acerca de um grupo bem organizado, com liderança definida (Gn.10.8-10), com unidade, propósito, planejamento, conhecimento técnico, recursos materiais e iniciativa para o trabalho. Tais características podem até servir como modelo para nós. Contudo, a grande obra não produziu o resultado almejado. Aparentemente, tudo estava muito bem, até que Deus resolveu interromper o trabalho. Por quê ocorreu tamanho fracasso?

O problema era a motivação daquele grupo. Eles disseram: “Edifiquemos para nós uma cidade... e tornemos célebre o nosso nome” (Gn.11.4). Aquela obra não era de Deus, mas do homem, embora “Babel” signifique “porta de Deus” (o mesmo que “Babilônia”). Precisamos examinar as nossas obras. Algumas podem ter o nome de Deus em seus rótulos, em suas placas, quando, de fato, são meros empreendimentos humanos para a glória do próprio homem.

O que queremos engrandecer com as nossas obras? A nós mesmos? O nosso nome? A nossa denominação evangélica? O nosso alvo deve ser a glorificação do Senhor Jesus Cristo. Caso contrário, estaremos realizando a nossa obra e não a obra de Deus.

Gostaríamos de traçar um paralelo entre o episódio de Babel e o dia de Pentecostes, narrado em Atos 2. Em ambos os casos, está em evidência a variedade de línguas. No primeiro, as pessoas não se entendiam. No último, a mensagem de Deus foi compreendida por todos. Em Atos 2, também se registra o início de uma grande obra: a edificação da igreja. Esta, ao contrário de Babel, foi planejada pelo Senhor Jesus (Mt.16.16), ungida e dirigida pelo Espírito Santo. Seu objetivo é a glória de Deus. Por isso, conta com a bênção do Pai.

Entretanto, toda obra deve ser acompanhada em todas as suas etapas e em todos os setores de trabalho. Cada um de nós, deve verificar se está trabalhando sob a direção do Espírito Santo. Estamos edificando a igreja ou Babel? Precisamos avaliar nossa própria obra, antes que Deus venha examiná-la.

Paulo manifestou sua preocupação quando escreveu aos Coríntios. A obra realizada naquela igreja estava precisando de alguns ajustes para que retomasse o rumo do projeto divino. O apóstolo disse que, sobre o alicerce, que é Cristo, muitos estavam edificando. Alguns construíam com ouro, prata e pedras preciosas. Outros utilizavam madeira, feno e palha (I Cor.3.9-17). Todo material seria testado pelo fogo.

Como podemos medir a eficácia do nosso trabalho ou verificar se está correto? A continuidade da obra é um bom sinal, mas não é suficiente. Nossa satisfação pessoal com o que temos feito também é positiva, mas não serve como instrumento de avaliação. Na bíblia está o projeto determinado por Deus, a planta da construção. Nela encontramos todos os parâmetros para o serviço ao Senhor. Devemos sempre examinar o nosso trabalho sob a luz da Palavra.

Precisamos sempre fazer o melhor, acompanhando os parâmetros bíblicos, para a glória de Deus e ungidos pelo Espírito Santo. Dessa forma, nosso trabalho dará resultados, e o principal é a salvação das almas (I Pd.1.9). O resto, mesmo que seja importante, é secundário. Que o nosso propósito não seja o dinheiro, mesmo sabendo de sua necessidade e importância. Que o nosso propósito não seja a fama, ainda que sejamos reconhecidos e honrados.

No dia do juízo, nossas realizações serão provadas pelo fogo dos olhos de Deus. Aquele cuja obra permanecer, será recompensado pelo Senhor (I Cor.3.9-17). É importante observarmos que não haverá galardão para a igreja, mas para cada pessoa individualmente. Portanto, a responsabilidade também é individual. Ainda que, como grupo, sejamos bem sucedidos, é necessário que cada um verifique qual tem sido a sua contribuição para a causa do Senhor.

Verdade é que não seremos salvos mediante as obras, senão pela fé. Contudo, a verdadeira fé é conhecida através das obras. E, se ainda estamos neste mundo, é para que trabalhemos. Nossa vida precisa ser dedicada àquele que, em nosso favor, entregou sua própria vida: Jesus Cristo.

Autor: Anísio Renato de Andrade