A Transfiguração
Marcos 9.2-13
Jesus quis, com a transfiguração, cumprir a promessa de Marcos 9.1, ou seja, revelar a alguns a glória e o poder do seu Reino. A chave é a expressão: "foi transfigurado diante deles". A cena ali, para os três amigos mais chegados, especialmente para Pedro, que se escandalizara com a notícia da cruz do Messias, foi para dar-lhes impulsos de ânimo e de beleza espiritual.
Para João, que devia ser, mais tarde, o evangelista que ia fixar de modo claro a doutrina da sua divindade, da sua glória: "e vimos a sua glória..."
Para Tiago, que devia abrir entre eles a fileira do sacrifício.
2 Pe 1.16-18 identifica a transfiguração com o poder da segunda vinda de Cristo.
Logo, cumpria-se, de fato, Marcos 9.1. E para Jesus, a transfiguração era um grande gozo de comunhão com o Pai, e de confirmação de sua missão.
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1 - ORAÇÃO E GLORIFICAÇÃO.
"Seis dias depois tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João."
Note-se que foi Jesus quem teve a iniciativa de ir à montanha, não propriamente para ser transfigurado, mas para uma reunião de oração, conforme explicitamente o afirma Lucas (9.28,29).
A transfiguração foi conseqüência natural da comunhão de Jesus com o Pai; talvez, no caso, como resposta à sua oração. No batismo deu-se também a glorificação de Jesus, não na forma como a da cena aqui, mas pela aprovação do céu à sua missão: "abriu-se o céu."
Não fazia muito tempo, ao dar de comer à multidão no deserto, tinha ele passado a noite em oração. Nosso Salvador orava sempre principalmente nas crises importantes de sua vida (Hb 5.7). Sem dúvida, os três discípulos que estavam com Cristo oravam também com ele, e cumpria-se a promessa de Mt 18.20.
Jesus levou consigo só três dos 12 apóstolos. Não foi isto favoritismo seu a um "grupinho", como os críticos, ironicamente, dizem. Foi apenas medida muito natural. Jesus, o Mestre, tinha na sua escola várias classes de discípulos e de aprendizes, uns mais e outros menos adiantados, e Ele distribuía seus dons conforme melhor havia de ser à glória do Pai.
Há necessidade de hierarquia inteligente e sem vaidade, no mundo. No céu mesmo há hierarquia entre os anjos. Para o progresso, é preciso dividir o trabalho entre os capazes, os técnicos, os especialistas. Jesus tinha os seus técnicos e especialistas da piedade.
Pedro, Tiago e João tinham dons especiais (1 Co 12.1-12), eram os mais alertas do seu grupo, já tinham acompanhado a Cristo na sua ida à casa de Jairo e iam acompanhá-lo no Getsêmane.
Era como que uma preparação especial dos três, por motivo não explicitado por Cristo. Deus usou algumas vezes uma tríade de servos especializados: Abraão, Isaque e Jacó; Moisés, Hur e Arão; Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; Pedro, Tiago e João.
Cristo levou os amigos a um monte, longe da multidão, longe do barulho, longe das atrações do mundo. "E transfigurou-se diante deles." O verbo transfigurar significa não simplesmente uma mudança da forma exterior, mas uma mudança real e essencial de dentro para fora.
"E os seus vestidos se tornaram resplandecentes."
Mateus diz que seu "rosto ficou refulgente". Isto aconteceu à vista dos discípulos, de sorte que pudessem ser testemunhas. Jesus refletia, em antecipação provisória e parcial, a glória que Ele é e tem. Convém comparar a sua aparência, aqui, com a que se revelaria mais tarde a um dos três discípulos na Ilha de Patmos.
Será proveitoso notar os pormenores da transfiguração como nos foram transmitidos pelos evangelistas. Diz Mateus que "seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz".
Segundo Marcos, "as suas vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas."
E Lucas diz que "suas vestes resplandeceram de brancura."
Evidentemente, houve na transfiguração mostras do que seremos na segunda vinda de Jesus.
2 - A GLÓRIA DE JESUS E OS PROFETAS GLORIFICADOS
"E apareceu-lhes Elias com Moisés."
Seria difícil escolher dois personagens que fossem mais aceitáveis aos olhos dos judeus do que estes. Os dois falaram com Deus no monte Horebe; os dois eram tipos de Cristo; jejuaram quarenta dias; sofreram muitas coisas pela glória de Deus; dividiram as águas; foram mensageiros enviados por Deus a reis; foram admiráveis na sua vida bem como no fim de sua carreira mortal.
Elias foi levado para o céu num carro de fogo, e não viu a morte. E tanto que Moisés morreu e foi sepultado, o seu corpo foi retirado do domínio daquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo.
Moisés era representante da Lei. Por ele a Lei foi dada, foi fundado o reino e instituídos os sacrifícios, que figuravam o sacrifício de Cristo. Elias era representante dos profetas, os quais predisseram a vinda do Messias, os seus sofrimentos e a sua glória real. Eram a síntese da velha dispensação.
"E estavam falando com Jesus."
De Lucas sabemos que o grande tema dessa conversa era a sua morte, o seu "êxodo" deste mundo, e que havia de cumprir-se em Jerusalém. De certo esta palavra trouxe consolo e fortaleza a Jesus, confirmando-lhe a convicção de ser o caminho da cruz o caminho direito. A conferência, sem dúvida, fortaleceu também a fé dos discípulos. Eles viram que o que Jesus lhes ensinara a respeito do Messias padecente era verdade. E, vendo Moisés e Elias conversando com Jesus, mais facilmente podiam acreditar na ressurreição.
3 - A GLÓRIA DE JESUS E OS APÓSTOLOS NA TERRA.
"E disse Pedro" - não a qualquer pergunta de Jesus, mas, antes, à vista do que tinha ouvido.
Pedro, sempre impulsivo, pronto a falar e a escutar, propõe fazer três tendas, feitas de ramos de árvores. A companhia em que Pedro se achava era muito boa, e ele queria ficar aí, nas alturas, acima dos cuidados mundanos, e, portanto, julgava oportuno arranjar um abrigo para o Mestre e seus visitantes celestiais. Mas, Pedro "não sabia o que dizia".
Os três discípulos estavam pasmados, atônitos. Lucas diz que "encheram-se de medo ao entrarem na nuvem". As grandes manifestações do poder de Deus, vistas de perto, enchem de medo a alma cônscia de fraqueza e de pecado.
4 - A GLÓRIA DE JESUS E A VOZ CELESTIAL.
Jesus nada responde a Pedro, mas enquanto este falava, formou-se uma nuvem que os envolveu. Qual o Sheknah no Tabernáculo e depois no Templo, quando foi dedicado por Salomão, a nuvem era o sinal da presença imediata de Deus. A nuvem atenuava um pouco o brilho da glória.
"Saiu uma voz da nuvem que dizia." A mesma voz que falou quando foi Jesus batizado. "Este é meu Filho amado; a ele ouvi." Importava que os discípulos ficassem impressionados com a realidade da natureza de Jesus, de maneira que não perdessem a sua fé, mesmo nos tempos angustiosos que se haviam de seguir.
Quando os discípulos ouviram a voz, diz Mateus, "caíram de bruços, tomados de grande medo." Mas Jesus lhes tocou, dizendo: "Erguei-vos, e não temais"; e, olhando ao redor, não viram ali a mais ninguém, senão somente Jesus.
Os dois personagens o tinham deixado só com os discípulos. Jesus é a Supremacia, é, a Autoridade máxima no céu e na terra.
5 - A GLÓRIA DE JESUS E O MUNDO
A descida do monte, na luz da manhã, sem dúvida nenhuma foi acompanhada de reflexões agradáveis sobre a cena que haviam presenciado. Ali houve nova e maravilhosa confirmação de ser Jesus o Cristo, o Filho de Deus.
Naturalmente, desejavam contar a outros a história do que tinham visto e ouvido, mas Jesus "mandou que a ninguém contassem o que tinham visto até que o Filho do Homem houvesse ressurgido dos mortos."
E foi sobre esta palavra que disputavam entre si: "até que houvesse ressurgido dos mortos." A idéia de uma ressurreição geral eles eram capazes de entender, mas não podiam compreender como seria possível o Messias morrer e ressurgir, por isso tomaram a "palavra" em sentido figurado; e sabemos que, mesmo depois da ressurreição de Jesus, as palavras das mulheres que contavam a nova gloriosa pareceram a estes mesmos discípulos um como "desvario", e não lhes deram crédito.
Pois bem, se estes três tão favorecidos só em parte compreenderam as palavras de Jesus, muito menos seria possível ao povo alcançar o sentido delas.
A Transfiguração acha-se entre a Tentação e a Agonia no Getsêmane como o ponto culminante da missão de nosso Senhor na terra.
Aos que acabavam de ouvir das coisas que o Cristo havia de padecer foi concedida uma visão profética da glória que nele seria revelada, de sorte que pudessem caminhar seguros, sem ficar ofendidos ou completamente desencorajados à vista dos padecimentos atuais e futuros. A Transfiguração era um prelúdio e um penhor da glória de Cristo.
"Então lhe perguntaram: Pois, como dizem os fariseus que Elias deve vir primeiro?" - como profetizou Malaquias (3.1; 4.5-6). Os escribas tinham razão. Elias viria restaurar e reformar todas as coisas. A reforma consistia em estabelecer de novo os princípios que devem reger o Reino de Deus, e que os judeus tinham pervertido. Jesus torna a explicar-lhes o plano divino: É verdade o que dizeis. Elias há de vir e reformar todas as coisas, convertendo o coração dos pais aos filhos, como preparação para o grande dia do Senhor.
Jesus esclarece ainda mais a questão. Diz Ele: "Elias já veio" na pessoa de João Batista - o profeta que manifestou o poder e o espírito de Elias, mas os judeus não o reconheceram e Herodes fez-dele quanto quis. 18
6 - O TRABALHO ESPERAVA JESUS AO PÉ DO MONTE.
A cura de um menino possuído de espírito imundo. O pai do menino o trouxe aos nove discípulos, pedindo-lhes que expelissem o demônio, mas eles, por falta de fé, não puderam. Jesus, depois de repreender a incredulidade dos discípulos, mandou vir o menino e com sua palavra de poder curou-o perfeitamente, de sorte que "pasmaram todos do grande poder de Deus."
CONCLUSÕES
1. A Transfiguração é uma profecia da Ressurreição e Glorificação.
2. A comunhão com Cristo transfigura as nossas vidas. Quando Moisés desceu do monte, onde tinha estado com Deus, o seu rosto resplandecia (Ex 34.29-35).
3. A Transfiguração é prova da existência além-túmulo. Moisés e Elias conversavam com Jesus.
4. A luz, a glória e a bem-aventurança do mundo celestial são tão inefáveis que até o cristão, vendo-as, delira, como quem não sabe o que diz.
5. De vez em quando avistamos de longe a glória que nos espera: "o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo de sua glória" (Fp 3.21)."E assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial" (1 Co 15.49).
6. A Transfiguração foi, para Cristo, preparação para a cruz.
7. A limitada inteligência humana delira em face da glória divina. Por isso, seremos transfigurados ao irmos para o céu. Senão, deliraríamos ante a majestade celestial.
8. Pedro propôs uma infantilidade no monte: fazer tendas para quem morava no céu; reter no monte árido os que residiam no Alto da Glória e reter na terra seres já glorificados...
8. Elias "já veio e há de vir", disse Jesus. Veio figuradamente por meio da pessoa e obra de João Batista. Mas, Elias virá ainda, na segunda vinda de Jesus à terra, Elias mesmo.
9. Jesus não era homem de reclames espetaculares, sensacionais e ruidosos, como os mestres de hoje, agitadores de povos e classes. Jesus é a expressão máxima da candura, da serenidade e da discrição. A proclamação de sua glória é feita pela fé, sim, mas no silêncio de uma vida eloqüente que vive na prática do bem.
Autor: Rev. Galdino Moreira