Pérgamo, a Igreja Casada com o Mundo (esboço)
Leitura bíblica: Apocalipse 2.12-17
I. A igreja de Pérgamo
É possível que essa igreja tenha sido fundada pelo ministério do apóstolo Paulo:
- Paulo esteve em atividade por três anos na província da Ásia (At 20.31).
- Na sua terceira viagem missionária, num espaço de dois anos, “todos os que habitavam na [província da] Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos” (At 19.10).
- O ourives Demétrio declarou: “bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos” (At 19.26).
A cidade de Pérgamo começou a se destacar depois da morte de Alexandre Magno, em 333 a.C. Ela foi capital da província da Ásia por quase quatrocentos anos, e capital do reino da Selêucida até 133 a.C., quando foi anexada ao Império Romano.
Como centro cultural, Pérgamo sobrepujava Éfeso e Esmirna. A sua biblioteca, com duzentos mil pergaminhos, era a segunda maior do mundo, superada apenas pela de Alexandria. Há uma lenda de que o pergaminho deriva-se de Pérgamo, haja vista ter sido essa cidade um importante centro de manufatura do pergaminho.
Pérgamo era uma cidade muito idólatra. Nela havia um grande altar a Júpiter (Zeus), e templos dedicados ao imperador, a Atena, a Dionísio e a Esculápio, o deus da cura, identificado por uma serpente.
Se considerarmos a analogia, pela qual se compara as sete igrejas da Ásia com os períodos da História da Igreja, Pérgamo representa a igreja mundana dos anos 313 a 600.
II. Análise da carta à igreja de Pérgamo (Ap 2.12-17)
“E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve” (v.12) — o líder é o responsável perante o Senhor. Ele só não fala com o líder se este estiver completamente desviado (1 Sm 3.11-14; 28.6).
“Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios” (v.12):
- O Senhor Jesus empregou criteriosamente os títulos com que designou a si mesmo, em harmonia com a situação reinante em cada igreja.
- Pérgamo abraçara a doutrina de Balaão e a dos nicolaítas; deveria se arrepender. Jesus se revelou a essa igreja como “aquele que tem a espada aguda de dois fios”.
- A espada de dois fios é a Palavra de Deus (Ef 6.17; Hb 4.12).
- É com a Palavra que Deus corta pela raiz as heresias, os misticismos, os modismos, os maus costumes, etc.
O trono de Satanás: “Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (v.13).
- A cidade de Pérgamo, em si, era a habitação do Diabo, pois vários deuses pagãos eram adorados ali: o imperador, Zeus, Atena, Esculápio, etc.
- Os crentes infiéis, misturados com o mundo, haviam também entronizado Satanás na casa de Deus (1 Tm 4.1).
A igreja de Pérgamo tinha duas qualidades (v.13):
- Conservadora: “e reténs [conservas] o meu nome” (2 Tm 1.13,14; 1 Tm 6.19,20).
- Fiel: “e não negaste a minha fé” (Ap 2.10).
O testemunho a respeito de Antipas: “Ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita”.
- Deus dá testemunho dos seus servos, mesmo depois de mortos (Jó 1.8; Mt 3.17; 11.11).
- O nome Antipas significa “contra todos”. Ele era um apologista (Fp 1.16).
- Não o confunda com Antipas, pai de Herodes, o Grande, nem com Herodes Antipas, que assassinou João Batista.
- Segundo a tradição, Antipas foi colocado em um boi de bronze oco (semelhante àquele touro de Nova York), e esse foi levado ao fogo até ficar vermelho.
- Quem combate a apostasia e a heresia é odiado e perseguido (Mt 5.10,11; At 9.15).
A igreja de Pérgamo tolerava obscuras seitas heréticas:
- “Mas umas poucas coisas tenho contra ti” (v.14) — em Éfeso só tinha uma coisa; mas há pecados que pesam mais que outros. O problema de Pérgamo não era a apostasia aberta, e sim o ecumenismo.
- “Tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem sacrifícios da idolatria e se prostituíssem”.
- Tal doutrina corrompia a graça de Deus; era uma teologia permissiva, tolerante e mercantilista (Jd vv.4,11; 2 Pe 2.15,16).
- Deus não se agrada de mistura (2 Co 6.14-18; Gn 6.2).
c) “Tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu aborreço” (v.15).
- Vemos aqui um contraste com a igreja de Éfeso, à qual o Senhor falou: “aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço” (Ap 2.6).
- Os nicolaítas eram cristãos, possivelmente discípulos de Nicolau, diácono que supostamente se desviou (At 6.5), os quais, apesar de convertidos, de alguma maneira praticavam as obras da carne. Eles supervalorizavam a graça, faziam o trabalho do Senhor relaxadamente, acreditando que não precisavam praticar boas obras (Tg 2.14-17; Ef 2.8-10; Hb 3.12,13).
- Eles ensinavam que o crente não precisa ser diferente do mundo (Ml 1.8; Rm 12.1,2; 1 Jo 2.15-17).
- Eles se consideravam donos da igreja — ainda hoje existem os que seguem a doutrina dos nicolaítas!
O aviso do Senhor a quem não se arrepende: “Arrepende-te, pois; quando não, em breve virei a ti e contra estes batalharei com a espada da minha boca”.
- A espada é a Palavra de Deus (Ap 19.15,21).
- Quem não se arrepende acaba tendo o próprio Deus como inimigo (Tg 4.4; Is 63.10).
Promessas aos vencedores de Pérgamo:
- “Darei a comer do maná escondido” — é o banquete permanente no céu; Cristo partilhará sua própria natureza (Jo 6.35ss; Rm 8.18).
- “Dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” — no passado essa pedra branca era dada a:
- Um réu absolvido.
- Um escravo liberto.
- Um vencedor em corridas ou lutas.
- Um guerreiro que voltava vitorioso de uma batalha.
- A quem participaria de uma festa: entrada, ingresso, bilhete (1 Pe 1.18,19).
Autor: Ciro Sanches Zibordi